Por Mestre Obashanan
O termo “caridade” vem do latim
caritas (amor), de carus (caro, de alto valor, digno de apreço, de amor).
Identifica-se hoje, frequentemente,
a caridade com um afeto piegas que se traduz por gestos de assistência
paternalista. O termo evoca, imediatamente, a ideia de esmola, tanto que a
expressão “viver de caridade pública” significa viver de esmolas, no entanto,
caridade é algo bem mais profundo.
A Umbanda em seus primórdios cunhou
a frase “Fé, Esperança e Caridade”. Fico ainda, com o que escreveu mestre
Yapacani: “Pratique a caridade nem que seja por vaidade”.
No ponto de um caboclo aprendemos:
“Pedrinha do alto/Pedrinha de ouro/Pedrinha de Loango é…/3 Pedras vem lá do
céu: Caridade, Esperança e Fé”, indica a benção que vem do alto na forma de
justiça e igualdade para todos. Em outro ponto aprendemos: “Quando ele vem lá
do Oriente/Vem com ordens de Oxalá/Sua missão é muito grande/É espalhar a
CARIDADE/E seus filhos proteger”. Já ouvi muito dirigente umbandista
contraditório dizer ser a caridade proibitiva na Umbanda. Nesse caso, o que
devemos fazer? Mudamos o ponto ou entendermos o conceito?
Etimologicamente, caridade sugere
dom, preciosidade, intimidade; De fato, caridade é oblação, virtude, atitude de
comunhão mais ainda é vida. Por isso mesmo comporta exigências e é objeto de
preceito. Sua tradução como amor se identifica se este está despido de
ambigüidades. Supera, em objeto e motivação, a filantropia. Relaciona-se
proximamente à justiça enquanto estabelece ordem no que é coletivo impedindo
que estas diferenças se cristalizem e se degenerem em CONFUSÃO (!).
Coincide em grande parte com a
Graça. Caridade é o amor desinteressado ao próximo e é justamente aí que
falhamos pois o próximo nem sempre é interessante. Este fio tenebroso de
pensamento é o que nos aproxima do egoísmo quando escolhemos a quem devemos
praticar caridade. Caridade é, uma dileção sem predileção e por isso supera e
não é filantropia, que é o amor à humanidade, e sendo esta uma abstração, é
mais comum a quem não quer ter trabalho para praticá-la como deve ser
praticada.
Assim, como o próximo pode ser
qualquer um, a caridade, é, em princípio, universal. É o que a distingue da
amizade, que é inseparável da escolha ou da preferência, pois os amigos nós
escolhemos, já os próximos não. Amar seus amigos não é amar qualquer um, nem
amá-los de qualquer maneira: é simplesmente preferi-los numa escolha que,
quando mal feita, pode levar à injustiça e à hipocrisia.
A caridade tem por objeto apenas os
indivíduos, em sua singularidade, em sua concretude, em sua fragilidade
essencial. É amar qualquer um, mas na medida em que é qualquer um; é
regozijar-se com a existencia do outro, seja o que ele for, mas tal como ele é.
O que nos separa dele, esse outro
tão distante, é o EU, que só sabe AMAR A SI (egoísmo) ou PARA SI
(concupiscência). Já diziam os antigos que “Caridade bem ordenada para nós é
começada”, mas costuma-se tomar o dito ao inverso de seu sentido.
E, finalmente, a
caridade só começa, existe e tem sentido real e efetivo, quando cessamos de nos
preferir.
Fonte: http://estrelaverde.org/web/2016/05/24/caridade/
Tempo da Estrela Verde
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